3 de junho de 2008

No Espelho do Guarda-Roupa

(Foto por Helewidis - DeviantArt)


Cantor de bossa-nova desajeitado
Dedo longo, prosa pequena
Talento escondido no baú
Tradução de emoções para si mesmo
E veio o dia, que de belo só o nome tinha
O mundo bateu-lhe à porta e na face
E vieram as lágrimas
A despeito do sorriso bobo no rosto
Passou a aurora
Chegou o sol a pino
Adentrou a noite e
No último suspiro, dormiu
O sonho carregou o que de resto sobrava
E teve vento, teve chuva, teve de tudo um pouco
Fazia frio nos trópicos, nevou dentro do quarto
Cortejou ciclone, tempestade e precipício
Ouviu o convite da morte e disse não
Fez trança no cabelo
Tatuou dragão no braço
Acendeu cigarro perfumado
Lançou injúria no vazio
Rabiscou encantos na porta do banheiro
Saltou de braços abertos para a vida
Lasciva, ela lhe beijou o rosto
Fez promessa e lhe entregou o corpo
Descobriu seus segredos
Sentiu cheiro e sabor de sexo casual
Explodiu em nuvens carregadas
Caiu em gotas bem vindas
Cantarolou canções preferidas
E soube, por fim
Não havia respostas
Por que não havia perguntas
Estas eram desnecessárias
Por que tudo estava lá
Abriu os olhos e viu
Tomou o violão
E fez poesia

3 comentários:

Camilla Tebet disse...

E que música essa sem compromisso não é? Música sem pergunta, coisa de prazer casual. Poesia é assim, não é? Pergunto porque além de não escrever, ainda estou aprendendo a ler poesia.
Mas imagino que poesia não pode ter espaço delimitado, perguntas ou necessidades. Ela tem que transpor e criar seu próprio espaço de existência, assim como vc faz com suas letras.
Beijos e já estava com saudade de te ler!

Narradora disse...

E como fez poesia!
Essa escolha pela vida depois que tudo parece errado, é uma característica da natureza humana que eu acho incrível.

"Cortejou ciclone, tempestade e precipício/ Ouviu o convite da morte e disse não"

Gosto da sua eleição de imagens pra demonstrar essa opção no poema - o dragão da tatuagem, as tranças no cabelo.
Quanto às respostas, acho que a gente descobre que o caminho importa tanto ou mais que a chegada.
Belo texto.
Bjs

Letícia disse...

Vejo o John fazendo poesia que fala de começo de vida e retorno às esperanças perdidas. Mas será que nos perdemos mesmo? Será que somos bons? Será que chove amanhã e viajaremos para o futuro? Não sei responder, mas sei que leio o John porque ele fala a minha língua. Somos do mesmo planeta.
Câmbio.

Se cuida, Dear Friend.
E mesmo que o São João seja diferente, pensa no mundo que vc carrega em seus poemas. Nada irá corromper você.