20 de julho de 2009

A tal liberdade

A noite estava muito clara
Vi sobre o telhado
Uma irmandade
de quatro ou cinco gatos
Um gato macilento e pardo
Um perguntava pro outro
O que é liberdade?
O gato preto e rajado
Respondeu com ar de quem sabe
Liberdade meu compadre
Só sabe quem foi escravo
É uma coisa louca que assusta
Pode ser boa ou pode ser a luta
da vida contra o destino
Na liberdade, a gente não toma tino
Já sem liberdade, tudo fica por conta do dono
Isso é verdade disse um gato prateado
Com seu tom falseado
Eu fugi do meu dono, pelos telhados
Vivia na casa de um ricaço
E foi criado com muitos regalos
Eu e outros gataços
Éramos tratados como bichanos
Mas não podíamos sair
De jeito nenhum do palácio
De sorte que cresci e aborreci
Achei melhor viver na rua e sai
Do que ficar na mansão encerrado.

De repente passou silvando
Um tiro disparado
De um quintal por um raivoso soldado
Atônicos e assustados
Saíram em disparada
Depois, confusos e desarranchados
Acabaram se ajuntando
Disse o gato falseado
Por hoje de boa escapamos
E sabe de uma coisa?
Vou voltar para meu amo
Por que de água fria
Tem medo gato escaldado.

Por Joseph Dalmo (jul, 2009)

19 de julho de 2009

O Soberano infeliz

















O soberano infeliz

Num país distante havia um rei muito rico que se julgava a tudo superior e tinha o mundo inteiro aos seus pés. Possuía muito ouro, prata, e esplendor. Seus súditos o amavam ou temiam. O país era um Reino de Quimeras onde o aroma das flores recendia nas suas eternas primaveras.

Só o rei vivia em perene tristeza, era uma melancolia sua vida e a satisfação dos seus menores desejos fazia-lhe um estranho mal. Sua alma vivia perdida, como um barco num temporal. Tudo era tentado para agradar o soberano, tudo inútil, tudo insano.

Um dia chegou à corte a fama de um sábio santo franciscano que poderia curar o soberano. Foram envidados mensageiros para trazer o monge a qualquer preço para ver o rei.
A cidade engalanou-se em festas para recepcionar o venerado frade, mas para a decepção da multidão o frei era baixinho, e mirrado, mesmo assim o frei foi levado a presença de sua majestade.
Na sala coberta de prata e dourados entrou o pobre franciscano. O rei esperava-o lasso e desanimado, enfadado e alheio e amargurado. O rei escutou seus conselhos. Ele disse:
- Ó rei, o lazer, o prazer não é bastante para ti, a satisfação de teus menores desejos é o que te deixa infeliz e distante. Desce de teu trono, ó majestade, vai conhecer um verme rastejando, vai conhecer a dor ou insanidade, vai ver um faminto mendigando ou os desgraçados implorarem compaixões. Tu tens sede de sofrimento, sede da verdade, depois, então saberás apreciar as belezas, das imperfeitas perfeições de teu país e alcançará a felicidade.
Lembre-se quem nunca sofreu nunca saberá o que é bem-estar. Uma coisa inexiste sem outra, o preto sem o branco, é o avesso e o direito se inteirando, são dois sentimentos antagônicos se completando.
No fim das palavras do franciscano, um milagre aconteceu! Finalmente o rei descobriu a causa de sua infelicidade.
Então, sorriu...gargalhou e morreu.

Joseph Dalmo (jul, 2009)

Imagem: King_by_SnowSka