4 de maio de 2008

Carta

(foto por Histerical Emotion - Deviantart.com)



Carta repleta de linhas
Costura idéias, ponto que aumenta conto
Confronta sonhos em palavras melódicas
Tece rede, lança ao mar, vai dar pescaria?
E caminha, caminha, caminha
Na rua tem de tudo, na sacada tem beijo roubado
Quitanda vende frutas e Quintana distribui sonhos
Carta cresce e desce a ladeira
Tem o estádio com torcida e seus cantos
Tem fogos de artifício para celebrar o dia
E tem dia que é assim, vôo rasante nas montanhas
Perto do sol, onde outras asas derretem
Mas não essas, não as de carta cheia de verbos
Sinônimo vira antônimo, pleonasmos são bem vindos
A gramática é esquecida, a liberdade é poética
A igualdade fala francês, a fraternidade é uma dádiva
E a casa caiu, poeta
Carta se recusa a crescer, gosta da Wendy, quer ser o Peter
Quer uma fornada do melhor pão de queijo
Xícara de café com leite, rede para dormir ao vento
Cafuné no final da tarde, sorriso bobo no rosto
Casa de frente para a terra do nunca
Não quer ponto final
Mas sabe que, mesmo que ele venha
Enquanto houver quem a leia
O ponto final será sempre mera formalidade literária...

4 comentários:

Letícia disse...

Falou do Quintana e de cartas, falou comigo. Que poema, John. Você esparrama veracidade e amo o que vc escreve. Não é clichê - falo de verdade. Também não fico analisando com base em teorias literárias. Seus poemas são teorias de amor, de homem, de vontade. Teorias que me fazem ver que poetas sonham - Peter Pan e Wendy sempre irão existir. Sonho bom esse seu e eu, Letícia, acompanho você. Acredito na poesia. Ela sempre vem e não se faz mera formalidade.

Com amor,

Sua leitora.

E vamos filosofar até que o tempo nos permita.

Camilla Tebet disse...

PAra um poeta cheio de dois pontos, vírgulas, novos parágrafos e figuras como vc, um ponto, meu amigo, é só um ponto. Assim como "uma pedra é só uma pedra, matéria densa, sem qualquer luz, não pensa", um ponto é só ponto e "Assim o homem tenta livra-se do fim que o atormenta E se inventa". E vc faz isso muito bem, pra vc mesmo e para nós que te lemos, sem pedras e esperamos sem pontos realmente finais.
Fã Camilla Tebet

Narradora disse...

Tão lindo!
Sabe aqueles textos que lemos e que nos são íntimos, porque o escritor arrumou as palavras que estavam soltas e embaralhadas dentro de nós?
Pois é.
Bjs

Cândida Nobre disse...

Taí uma verdade dita de maneira belíssima: "O ponto final será sempre mera formalidade literária..."