28 de outubro de 2008

O riacho e o pântano

Foto: Pântano by Clóvis Franco

Era uma vez um riacho de águas cristalinas,
que descia do planalto
em direção ao oceano.
Quando notou na sua frente uma ravina.
Onde havia um pântano.

O riacho olhou pra o charco,
e protestou: que castigo!
Como vou passar sem um barco
neste pântano fedido?
Sem me sujar não consigo!

E o pântano ofendido respondeu:
- Depende da maneira de me encarar;
Posso diminuir seu ritmo e parar seu curso,
misturar suas águas com as minhas,
ou deixar você passar.

- Mas se você me pedir desculpa
e tiver coragem e desprendimento,
vou deixar você passar sem sofrimento.
E se tiver coragem para arriscar,
vou transformar você em nuvem,
que o vento levará para o mar.

“É preciso entrar pra valer nos projetos da vida, até que o rio se transforme em mar.” A.D.

por Joseph Dalmo (out, 2008)

17 de outubro de 2008

O São João de Estância


São João é a festa mais popular da cidade da Estância. A cidade é ornamentada com balões e bandeirolas de papel colorido, parece até uma noiva que vai casar.
Na véspera de São João sua gente acende fogueiras, e a cidade inteira, bairro por bairro, fica engalanada, toda iluminada com as lindas fogueiras que enchem o ar de fumaçeira que parece um nevoeiro que desce do céu friorento.
No sereno da madrugada, as quadrilhas de São João ao som das vozes em coro que tiram estribilho de toadas juninas, acompanhadas da sanfona, do triangulo e da zabumba, dançam sem parar, com a mesma animação do começo da noite. E o amanhã vem saudar os forrózeiros que atravessam a noite, estourando bombas, foguetes e pitus que enchem o ar com o estrondo e clarões das detonações.
Cidade de ricos folclores regionais; do samba de coco, da pisa da pólvora, das pastorinhas que dançam ao som dos batuques. Batucadas que são compostas de pastoras, com seus coloridos vestidos de chita e chapéu de palha, que marcam o som do batuque com seus tamancos. E os batuqueiros de camisa de chita e calça brim, chapéu de palha e na mão um instrumento: zabumba, pandeiro, guiso e sanfona acompanham as pastoras. Estas formam duas filas, com os batuqueiros atrás; duas pastoras trazem uma faixa como o nome da batucada (“batucada unida do B. Sta Cruz”, “batucada busca-pé...”) e fechando as filas, duas pastoras trazem um “barco de fogo” que na noite de São João corre em um fio de aço preso a dois postes. Durante a corrida do “barco de fogo” diversos grupos detonam seus fogos para testar a qualidade do fogo; qual que corre mais? qual é mais brilhante? qual o que fagulha mais?
Durante todo mês de Junho, as mulheres preparam manuês, canjicas e pamonhas e o famoso licor de jenipapo. Os homens pisam carvão, misturam pólvora e juntam limalha, cortam bambu, e fabricam “busca-pés” para soltarem na praça da catedral, onde verdadeiras batalhas se travam, que para os desavisados parece até uma guerra real, tamanha é a rivalidade com os fogueiteros em um feérico e empolgante mar de fogo faiscante, que ilumina a noite de Estância, atiram contra os adversários os “busca-pés” enlouquecidos. E haja pernas pra correr quem não quiser se queimar!!!

2 de outubro de 2008

As baianas do acarajé

Foto: Internet

As baianas do acarajé vendedoras de iguarias da culinária baiana, influência da cultura africana era a culinária dos escravos angolanos. Também trouxeram como contribuição sua religião, a música e o axé, além do delicioso acarajé, que não pode ser dissociado do candomblé. Feito de feijão fradinho, leva cebola, alho, sal e cuminho, e para ficar bem macio é batido com colher e frito no azeite de dendê.
As baianas da lagoa do Abaeté juntam ao acarajé o vatapá e a pimenta malagueta, que arde como o capeta. Outra iguaria é o abará, que é servido sem esquentar e como molhos acrescentam o camarão, caruru, e vatapá.
As baianas do acarajé com suas roupas tradicionais fazem pontos em certos locais de Ondina, Pelourinho, Piatã e Morro do Bonfim, que compõem em Salvador o cenário de todas as cores e sabores.
As quituteiras dos baianos provocaram nos poetas e cantores: Caymmi, Ari Barroso e Caetano, descreverem com inspiração em versos e canções o que tem no tabuleiro da baiana: Abará, vatapá, caruru e camarão. Mas, sobretudo, aquilo que a baiana tem no seu coração: Cangerê, candomblé e sedução.
As baianas do acarajé trazem, junto das suas tradições, o símbolo da resistência, desde os tempos da escravidão.

Por Joseph Dalmo (2008)