Zélia, escritora, amiga pessoal e oráculo eventual, disse-me, certa vez, que não é interessante ficar contando períodos de tempo, que o melhor é viver os dias e deixar que o que se quer esquecer se esvaneça naturalmente. Desculpe, capitã! Aqui vamos nós de novo...
Valcir, escritor, irmão, oráculo permanente e companheiro de cachaças homéricas, disse-me, como bom troglomacho que é, que eu tenho uma vontade de ferro, haja vista haver me livrado de dois vícios ao mesmo tempo, a saber, o cigarro e o café. Bom, quanto ao café, aqui vamos nós de novo...
Ana Fernandes, escritora (não vou dizer irmã, por que aí seria incesto!), paixão primal, amante e companheira de todos os momentos, a todo tempo diz que me ama e que, depois que parei de fumar, meu odor melhorou substancialmente, e que, depois que parei de tomar café, meus estresses praticamente sumiram. Perdona, mi amor! Calma, quanto ao cigarro, fique fria, mas já quanto ao café...
O caso é o seguinte. Quem me conhece sabe que fumei por cerca de dez anos, que já havia tentado parar com o cigarro um sem número de vezes, e que no dia 13/01/2008 eu fumei o último deles até o presente momento. O que nos dá hoje, neste momento, exatamente 171 dias, 18 horas e 45 minutos sem colocar um cigarro na boca. No rastro da vontade de parar de fumar eu também cortei o café. Quem fuma sabe, um nasceu para o outro, assim como a coca-cola nasceu para o rum, ou a cerveja para a praia, ou o whisky para os dias frios, ou o vinho para noites de amor... ok, eu bebo sim, e vou vivendo!
Apesar de haver cortado o hábito de fumar, não me tornei um ex-fumante Xiita, até por que ainda sinto uma vontade danada de pegar uma carteira de Marlboro, colocar todos os cigarros na boca e acendê-los de uma só vez. Juro que um dia eu ainda faço isso. E digo mais, quem fuma e for mais macho do que eu (e isso também vale para as moças que forem mais mulher do que eu!) que continue fumando feito uma caipora. Ninguém é inocente nesse quesito, todos sabem dos riscos e cabe a cada um decidir se deve fumar ou não. Por mim, tudo bem, e se for amigo meu pode ficar certo de que, ainda que esteja internado em estado terminal com câncer na garganta, e quiser fumar, eu levo o cigarro, acendo e atiro em qualquer médico que queira impedir esse ato de prazer inenarrável.
E com relação ao café? A verdade é que já tomei tanto café em minha vida quanto há água correndo no rio Amazonas. Tudo bem, o Amazonas é exagero, mas que chega a ser como o Solimões, ou o Negro, isso chega sim. Mas quem pode me culpar disso? Grãos selecionados, cultivados em solos bem tratados, torrados no ponto adequado, tirados por baristas hábeis e servidos em xícaras de porcelana pré-aquecidas. Aquela fumaça, que descreve rotas exóticas em direção ao meu nariz (hoje liberto da nicotina, o que me dá um olfato ainda mais apurado), e que adentra meu corpo e seqüestra o meu desejo, quase num ato de volúpia. Capuccino, Expresso, Late, Russo, com leite, variantes diferentes do mesmo prazer. Some-se a isso o reconfortante hábito de sentar à mesa do coffe shop com os amigos e conversar sobre tudo e sobre nada. Lembra-se, Ana, que foi assim que tudo começou?
4 comentários:
QUe texto gostoso, que texto honesto. Acho lindo e de bom alvitre quando um autor se mostra assim, de forma limpa e clara, honesta e gostosa em textos que reflitam seus momentos. Que são dias contados sim. Vc veja só que vitória, vc comemora 171 dias sem o vício do amigo assassino que éo tal do cigarro.
Sem super exposição vc colocou ai de maneira muito sóbria suas vitórias e sua fraqueza.
Adorei o texto, diferente de todos os outros que já fez.
E ainda se mostrou um grande amigo, que apoia as decisões adultas, apesar de perigosas, de outros amigos.
Eu adorei e para comemorar os seus 171 dias com vc, infelizmente eu ainda acendo um cigarro e tomo um café.
Poeta, poeta, muito bom !
João Cronista,
Li seu texto ontem e fiquei com cara de "esse John faz de tudo". Adorei a nova forma de redigir, pensamentos e a linha de crônica que o texto tomou. Sempre soube que vc era o "escritor das verdades". Maior prazer ler vc, amigo.
Bjs.
E vou tomar uma xícara de café e fumar um cigarro em homenagem. :)
João,querido amigo,escritor como eu ,pessoa que me faz rir e que me dá "provas" do quanto uma amizade é valiosa.Além de Jardineiro Fiel - tenho certeza! ;)
Disse e vou repetir que os seus textos estão me surpreendendo mais e mais.Entendo sobre o que a Letícia falou mas também sei que um escritor não deixa de ir para o céu por escrever textos "pessoais".Valcir,está certo sobre a sua vontade.Uso vc como exemplo a toda hora para o meu marido - ele tá naquela do vai e vem.Acho que a Ana tem razão quanto ao café ter um poder "estressante".Já falei sobre isso com o meu mesmo marido mas ele continua tomando baldes de café.E só para não terminar minhas considerações sobre o texto sem falar do café,nunca fui de tomar café.Era proibido em casa:"criança toma leite",eu ouvia.Mesmo assim,eu adorava tomar,de vez em quando, uma xícara de café coado na hora com um pedacinho de bolo ou uma tapioquinha.Hoje não faço mais isso porque a minha gastrite não deixa.Para não morrer de desejo,às vezes fujo à regar com um gole de café.Acho que o pior no café é mesmo o aroma.Passo todas as manhãs pela São Brás.O cheiro do café me toma e eu quase flutuo até a fábrica para roubar um golinho de café.Hummmmm
Voltando ao texto,sem ter saído dele,achei de grande criatividade.Adorei a forma como vc apresentou a sua identificação pessoal de forma organizada,coerente e com o humor que lhe é peculiar.
Quanto ao tempo que não se deve contar é aquele que segue segundo por segundo.De vez em quando,é bom parar e refletir sobre aquilo em que este Senhor nos transformou.
Parabéns pelo trabalho!
Ah!E um textinho pessoal é sempre bom porque a gente não perde o rumo das "fofocas" kkkkkkkkkkkkkkk
João,
Eu que odiava, hoje idolatro. Sou viciada sim.
Se vc vier à São Paulo recomendo:
- Orfeu ou Fazenda Pessegueiro (Latte Café - centro da cidade)
- Dona Mathilde -espetacular!!!! (no Santa Luzia - Al. Lorena)
- Suplicy (no Suplicy - em frente ao Santa Luzia).
Bjs
PS. Andei sumida, mas estou de volta.
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